Como tratar a sinusite
02 Jun

Como tratar a sinusite

O termo rinossinusite é o mais utilizado atualmente, já que a rinite e a sinusite são, freqüentemente, uma doença em continuidade. De acordo com as diretrizes da AMB e CFM, sob supervisão da ABORL, a rinossinusite pode ser clinicamente definida como uma resposta inflamatória da membrana mucosa que reveste a cavidade nasal e os seios paranasais.

Essa resposta inflamatória pode estar associada a processo infeccioso (bacteriano, viral ou fúngico) ou ser secundária a reações alérgicas, vasomotoras (temperatura) ou a substâncias químicas (poluição, cigarro, etc.).

As alterações estruturais do nariz, como desvios de septo nasal, obstrução do complexo óstiomeatal (COM) e hipertrofia de adenóides12-14 são fatores predisponentes das rinossinusites.

O diagnóstico da rinossinusite é predominantemente clínico quando da presença de dois ou mais dos sinais maiores, sendo a secreção purulenta um forte fator preditivo, ou um maior e pelo menos dois menores da lista abaixo:

Fatores Preditivos de rinossinusite aguda:
Maiores:
• Tosse
• Febre
• Dor/pressão Facial
• Obstrução ou congestão nasal
• Secreção nasal/retro nasal purulenta
• Hiposmia/anosmia
Menores:
• Cefaléia
• Halitose
• Dor em arcada dentária
• Otalgia ou pressão em ouvidos

Fonte: Tratado de ORL da SBORL
Quanto a classificação das rinossinusites, a mais utilizada é a temporal, relacionada com a duração e freqüência do processo1, sendo dividida em aguda, subaguda, aguda recorrente, crônica e crônica agudizada.

RINOSSINUSITE AGUDA
A rinossinusite aguda pode durar até 4 semanas. Na grande maioria dos casos, apresenta boa resposta ao tratamento clínico adequado. As rinossinusites agudas alérgicas não apresentam febre, sendo os sintomas menos intensos. É importante ressaltar que a suspeita de uma rinossinusite aguda bacteriana deve ocorrer quando os sintomas de uma IVAS viral pioram após o quinto dia ou persistem por mais de 10 dias.

RINOSSINUSITE SUBAGUDA
A rinossinusite subaguda representa a continuação de uma rinossinusite aguda em que não houve resolução completa dos sintomas. Os sintomas se mantém após a quarta semana de instalação da rinossinusite aguda, podendo perdurar até 12 semanas. Os pacientes podem ou não ter sido tratados na fase aguda da doença. Entretanto, os sintomas na fase subaguda são mais amenos do que na fase aguda.

RINOSSINUSITE RECORRENTE
A rinossinusite recorrente é definida por 3 ou mais episódios de rinossinusite aguda no ano, com ausência de sintomas entre eles.

RINOSSINUSITE CRÔNICA
A rinossinusite crônica caracteriza-se pela persistência dos sinais e sintomas por mais de 12 semanas. As alterações inflamatórias da mucosa tornam-se persistentes e quanto maior o tempo de evolução, menores as possibilidades de reversão com o tratamento clínico.

RINOSSINUSITE CRÔNICA AGUDIZADA
Consiste na exacerbação e/ou agudização dos sintomas de um paciente com rinossinusite crônica.
A freqüência dos sintomas da sinusite aguda (tosse, rinorréia purulenta, halitose, cefaléia, dor facial, febre) ou da crônica (rinorréia purulenta, congestão nasal, tosse, secreção posterior, halitose, dor de garganta) varia com a faixa etária e intensidade do quadro.

DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR
• RX simples: o valor diagnóstico é controverso e discutível. Pode ser solicitado na sinusite aguda quando existe dúvida diagnóstica. Deve ser solicitado em posição ortostática. Não indicado no controle evolutivo de uma sinusite
• Tomografia Computadorizada: está indicada nas sinusites crônicas ou recorrentes, nas complicações de sinusites agudas, devendo ser realizada de preferência após tratamento clínico.
• Nasofibroscopia: é recomendada para todos os pacientes com qualquer tipo de queixa nasal. Na falta do equipamento endoscópico, poderá ser dispensada, sempre que o quadro clínico, a rinoscopia anterior e outros exames complementares forem suficientes para o diagnóstico.

TRATAMENTO CLÍNICO
A Rinossinusite aguda, rinossinusite alérgica e viral, que apresentam sintomas mais leves e com secreção clara, podem ser tratadas com descongestionante tópico, antiinflamatórios e corticóides tópicos ou sistêmicos, utilizados por até cinco dias.
Em rinossinusites com características bacterianas, preconiza-se a amoxicilina com duração de tratamento de 10 a 14 dias. A amoxicilina pode ser substituída, na dependência da evolução clínica, por amoxicilina em associação com o ácido clavulânico ou por uma cefalosporina de segunda (cefaclor, cefprozil, axetil-cefuroxima) por 10 a 14 dias. Novos macrolídeos (Claritromicina) e quinolonas (levofloxacino, gatifloxacino, moxifloxacino) em adultos podem também ser utilizados.

Rinossinusite crônica
Na rinossinusite crônica, preconiza-se a utilização da amoxicilina com ác. clavulânico, a clindamicina ou a associação metronidazol com cefalosporinas de primeira ou segunda geração, ativos contra S. aureus e anaeróbios. O tempo de tratamento dependerá da evolução clínica, podendo ser recomendada duração de 3 a 5 semanas.
Não existem estudos comprovando a eficácia dos mucocinéticos no tratamento coadjuvante da rinossinusite.
Os corticóides são utilizados quando existe edema importante da mucosa nasal, cefaléia intensa, pólipos ou quadro alérgico associado. Podem ser prescritos por via tópica, que favorece o uso prolongado, ou oral, por no máximo 7 dias.
Nos casos de rinossinusite aguda recorrente e nos casos de sinusite crônica com agudizações freqüentes, após o tratamento do quadro agudo, devemos pesquisar os fatores predisponentes, principalmente o que envolve alergia, deficiências imunológicas, refluxo e alterações anatômicas.
Nesses casos, além de tratar esses fatores, podemos dispor de medicamentos imunoestimulantes, visando aumentar a resistência às recidivas bacterianas que são responsáveis por essas agudizações.

TRATAMENTO CIRÚRGICO
O principal objetivo do tratamento cirúrgico é restaurar a aeração e drenagem dos seios paranasais e do complexo óstiomeatal com o mínimo trauma possível e conseqüente restabelecimento da função mucociliar da mucosa acometida.

CONCLUSÃO
As rinossinusites apresentam etiologia multifatorial, com fatores predisponentes que envolvem predisposição genética, a condição imunológica e a anatomia do nariz.
Conseqüentemente, sua abordagem necessita de uma avaliação detalhada desses fatores, principalmente nos casos agudos recorrentes e crônicos, devendo seu tratamento contemplar esse fatores, o que envolve o uso de antibióticos, corticóides tópicos e sistêmicos, imunoestimulantes e até mesmo cirurgias funcionais minimamente invasivas.

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